Sou professora de tecnologia do curso de pedagogia no Instituto Brasileiro de Tecnologia Avançada (IBTA), em São Paulo. No começo, as alunas não sabiam nada de tecnologia. Então, desde a primeira disciplina que eu ministrei, fui fazendo um planejamento de aulas. Comecei pelas coisas mais básicas, como Word,  jogos no PowerPoint e expliquei que também é possível trabalhar com tecnologia em modo off-line. A partir disso, fomos evoluindo.

Usar essas ferramentas de tecnologia ainda na faculdade é importante para que as alunas entendam o funcionamento, além de sentir a dificuldade do aluno. Eu falo para elas  que devem gravar e fazer um diário mental de todas as dificuldades que sentem, porque o aluno também vai sentir.

Uma grande reclamação que eu escuto até em congressos é: “o aluno fica lá conectado o tempo todo e eu não consigo a atenção dele”. É importante criar algo dentro dessa realidade e, pensando nisso, desenvolvi várias atividades em redes sociais.

Começo fazendo uma ressignificação da rede, porque, na verdade, a rede social é para lazer. Em seguida, apresento um design instrucional (conjunto de técnicas e métodos usados no processo de ensino-aprendizagem) do ambiente. Não são só atividades com postagens. Eu transformo o ambiente que, por sua vez, muda o olhar do aluno.

No Facebook, por exemplo, criamos fóruns e bate-papo online. Nós trabalhamos pedagogia audiovisual, tecnologia móvel, narrativas digitais, entre outros temas. Algumas alunas tímidas, que não participam em sala de aula, arrasaram nos argumentos, comentando os posts e trazendo referencial teórico. Uma expressão que eu uso muito com elas é “mapear a turma”. Eu digo a elas que “a partir de uma brincadeira, de um jogo, você começa a conhecer os seus alunos e desenvolver um olhar para envolver todos nas atividades, até os tímidos”.

Além do Facebook, usei também o WhatsApp com o objetivo de produzir uma consciência de como utilizar o smartphone em sala de aula atrelado ao ensino. Desde o começo, também explico o que é um grupo educacional, que nós vamos usar a ferramenta para desenvolver um conteúdo. Não fica um monte de conversa. Eu mando uma foto, por exemplo, que chama a atenção das alunas, e o tema da discussão é definido. O aplicativo de comunicação se transformou em um ambiente digital de aprendizagem. As trocas de experiências, conteúdos, atividades e informações se transformaram em conhecimento. Nós trabalhamos avaliação na palma da mão, ministrei um curso de design thinking para educação, uma aula digital de desenhos e uma oficina de áudio-descrição para literatura infantil. Tudo isso via WhatsApp.

Uma das atividades que nós desenvolvemos foi com a Lilian Bacich, que participou da organização do livro “Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação”. Nós montamos um grupo de estudo no WhatsApp e ela participou, tirando dúvida das alunas e debatendo. Depois, elas vieram me falar “Nossa professora, você chamou uma profissional desse porte para conversar com a gente!”. E eu sempre falo que é importante chamar o autor daquilo que está sendo trabalhado para que o aluno tenha esse contato.

Nas atividades no Whats, acho legal que as alunas tragam mais informações para o grupo. Elas colocam mais vídeos, compartilham links de reportagens. Além disso, elas se comunicam mais rápido. Chega mensagem, aí a pessoa já fica naquela curiosidade pra saber de quem é. No Face, fica mais a opinião, embasada com o referencial teórico, e elas podem comentar depois.

Imagina um professor de tecnologia entrar na sala e perceber que os alunos não sabem onde liga o computador. Depois de todo o processo, elas conseguem debater, colocar a opinião, buscar vídeos na internet e compartilhar no grupo. Eu sempre falo pra elas: “Vocês conseguem perceber o quanto caminharam, o quanto subiram daquele primeiro degrau no primeiro trimestre?”. Hoje, elas conseguem avaliar a tecnologia e elogiar ou criticar o que já é feito no mercado. Para mim, essa é toda a devolutiva desse trabalho árduo realizado com elas.

A minha vontade é formar o profissional que não encontrei na época que eu era assessora tecnológica em outros colégios. Eu quero formar uma pessoa que consiga lidar com esse aluno sempre conectado, e que saiba respeitá-lo. Ambos têm o conhecimento na palma da mão, mas o professor tem o conhecimento científico. Então não pode ter medo do estudante, é preciso ser parceiro, aprender junto com ele.